Médicos da UPA de Mirassol publicaram uma carta aberta, nesta quarta-feira (17), para alertar o Poder Público sobre a situação de calamidade que a unidade de saúde se encontra. O documento foi assinado pelas médicas Tharsis C. F. Santos e Alana Siqueira B. Garjoni.
Trecho da carta diz: “a UPA Mirassol se tornou uma unidade de internação e suporte intensivo de pacientes moderada a severamente acometidos pela Covid. Já houve casos de óbito na unidade por falta de vagas, inclusive na data da presente carta. A situação é dramática. Não há recursos suficientes para manutenção de pacientes internados. Não há como instituir ventilação não-invasiva com aparelho de BIPAP/CPAP. Não há fisioterapia respiratória. Não há aparelhos de radiografia móveis ou tomografia. Não há máquinas de hemodiálise. Não há intensivistas diaristas para seguimento dos pacientes intubados, nem equipes de enfermagem suficientes para esses pacientes. A cobertura de exames é insuficiente e não existe laboratório próprio, o que impossibilita resultados em tempo real. Não há estrutura física, macas e pontos de oxigênio suficientes. Não há sequer como promover um atendimento separado de pacientes com síndrome gripal dos demais. As equipes médica e de enfermagem estão estafadas, sobrecarregadas, expostas ao constante risco de contaminação. As condições de trabalho são insalubres. As UTIs estão nas suas capacidades máximas, não há leitos, pessoas estão morrendo por falta de suporte médico adequado a suas necessidades. Mirassol precisa agir!”
Grupo de assistência médica dos profissionais da saúde de Mirassol
O grupo de assistência médica dos profissionais de saúde de Mirassol também se posicionaram contrários à decisão do prefeito, Edson Ermenegildo, em não aderir a sugestão de Rio Preto quanto ao lockdown.
Enquanto São José do Rio Preto e várias outras cidades da região adotaram a medida como estratégia de contenção de danos relacionados ao avanço de casos da doença e falta de leitos de UTI, a Prefeitura Municipal de Mirassol optou por seguir o Decreto Estadual, que já prevê diversas ações de distanciamento, mas permite, por exemplo, atendimento via Delivery e o funcionamento de supermercados.
Em Nota Oficial, o grupo explica e questiona as possíveis consequências negativas da decisão. Os profissionais da saúde declararam-se “perplexos e preocupados” com a decisão, pelo fato de a cidade não possuir nenhuma estrutura hospitalar capaz de gerir os impactos de uma pandemia. Atualmente, os pacientes que necessitam de internação e UTI são encaminhados para o Hospital de Base de Rio Preto, que já se encontra na capacidade máxima de acolhimento.
A preocupação central, além desta, é de que, havendo lockdown em São José do Rio Preto, maiores são as chances de tumulto e aglomeração no comércio de Mirassol, principalmente supermercados. Isso aumenta o risco de transmissão do vírus e, consequentemente, o número de doentes e mortos.
“As pessoas alegam que priorizando a saúde vamos prejudicar a economia. Isto não é verdade. No mundo todo, nos países onde a pandemia foi levada a sério e a vida colocada em primeiro lugar, já está havendo uma retomada positiva da economia. A economia depende do não-colapso do sistema de saúde. Não priorizar a saúde é também não priorizar a economia”, diz a Nota.
Por: Gustavo Villa/TS Rádio
Foto: Pacientes de Mirassol com Covid estão internados na UPA e aguardam leitos em hospitais. (Imagem: Divulgação)