A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) chama a atenção para a importância dos cuidados com a saúde mental. Através da Campanha Janeiro Branco, desenvolvida desde 2014, sempre no primeiro mês do ano, o objetivo é fazer com que as pessoas prestem mais atenção com os cuidados da mente. O mês escolhido tem a menção de que uma “página em branco” está aberta para ser preenchida.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o segundo país das Américas com maior índice de pessoas com depressão, são 5,8% da população, atrás dos Estados Unidos, com 5,9%.
A psicóloga, Bruna Antonieto, explica que as taxas de transtornos com ansiedade e depressão têm aumentado por todo o mundo. “Os transtornos mentais possuem base multifatorial, ou seja, fatores psicológicos, biológicos e sociais. Não podemos considerar uma única causa, mas sabemos que pessoas que vivenciam ou vivenciaram situações adversas como o luto, desemprego, violência estariam mais propensas a desenvolver algum transtorno durante a vida.”
O maior agravante para o aumento dos transtornos mentais foi a pandemia. “O período de afastamento social acentuou consideravelmente os casos de transtornos depressivos e ansiosos, aumentando assim a demanda por atendimento psicoterápico. Em relação aos pacientes que já realizavam tratamento, foi possível perceber um aumento significativo de recaídas e incidência de pensamentos disfuncionais relacionados ao cuidado com a saúde e o medo do adoecimento”, afirma a psicóloga.
A empresária e coach Samara Damião, também sofreu com crises de ansiedade por quatro anos. “No começo o tratamento foi muito doloroso, pois eu não aceitava o fato de ter que tomar remédio todos os dias. Foi só quando eu consegui aceitar o tratamento e entendi que haveria um tempo em que eu usaria a medicação e depois não mais, que consegui melhorar. Aprendi a me conhecer e me entender”, pondera Damião.
Hoje, com alta psiquiátrica, Samara é coach e auxilia as pessoas a se auto conhecerem e planejarem os seus objetivos e desafios, “sou muito grata em transformar vidas, mostrar o melhor que podemos fazer”.
Mas, engana-se quem acha que esse tipo de doença são somente os adultos que estão sujeitos. Há 3 meses, MBG, 8 anos, foi diagnosticada com síndrome do pânico. A mãe, SBG, explica que no início a menina se isolava e ia para cômodos da casa onde haviam poucas pessoas. “Achávamos que ela estava somente com saudades dos amigos e da escola. Até que um dia ela teve a primeira crise. Estávamos em casa e ela me chamou gritando, disse que estava com falta de ar e que tinha alguma coisa na garganta, falava que ia morrer e dizia: mãe, pelo amor de Deus, não me deixa morrer. Ficou dias sem comer comida sólida porque falava que ia engasgar e morrer”, relata a mãe.
A família procurou ajuda médica e hoje a criança já não tem mais tantas crises de pânico. “Nosso sentimento era de impotência, nada que fazíamos ajudava ela, só resolvia com medicação. Hoje, ela faz acompanhamento com psiquiatra e também terapia. Aprendemos a acalmá-la já no início de uma crise, não adianta falar. Eu abraço ela e nós ficamos bem quietinhas”, pondera SBG.
Para a psicóloga Bruna, casos como este de crianças com crises de ansiedade ou pânico têm sido mais comuns durante a pandemia. “O principal ambiente que propicia as interações sociais é a escola. Com o distanciamento social as crianças e adolescentes estão cada vez mais solitários e acabam trocando os momentos de socialização por formas alternativas de estabelecer contatos, como o videogame e o celular, aumentando assim a ansiedade ocasionada pelo excesso de exposição a jogos e redes sociais”, ressalta.
“Também é importante lembrar que a forma como as famílias reagem diante dos problemas é muito significativa para as crianças. Pais excessivamente preocupados podem criar um ambiente de medo e insegurança favorecendo as preocupações das crianças. É sempre importante manter um ambiente emocionalmente saudável, estabelecendo o diálogo e os contatos familiares,” analisa Antonieto.
Para a correria e o stress do dia a dia, a psicóloga dá algumas dicas para que possamos saber a hora de nos acalmar e não sofrer com doenças mentais. “De uma forma geral podemos citar: as distrações (como ler, escrever, ouvir músicas, ver filmes); a prática de atividade física seguido de acompanhamento profissional; alimentação saudável; sono regular; evitar o excesso de informações negativas (jornais e notícias sensacionalistas); controle de pensamentos catastróficos como “todos vamos morrer”, “é o fim do mundo”. E claro, buscar ajuda profissional em qualquer sinal de sofrimento significativo”, finaliza a psicóloga Bruna Antonieto.
Por: Andressa Baldissera
Foto: Agência Brasil